segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Antes que o futuro amanheça...



Neila Costa








Não vou silenciar as palavras
Que caminham sobre pantufas,
No asfalto quente da vida,
Quando a inspiração camufla
A realidade sofrida...
Não vou dominá-las na pausa
Que caí da vírgula,
Nem no mistério que a reticência
Inspira...
Nem delas suprimir a lágrima
Que se solta do ponto,
Em sinal de sobrevida.
Vou abraçar cada palavra,
Numa provável viagem,
A um mundo sem revolta...
Vou lhes dar as cores
Como escolta
Vou libertá-las...
Soltar suas amarras
Para que encontrem o caminho...
Não vou deixá-las presas
A um pergaminho,
Em jornais de noticias urgentes!
Ouço-as gementes...
Como se o gume da espada da violência
Sobre elas, estivesse cravado.
Ou melhor, seria trancafiá-las,
Mortificá-las em cada exclamação,
Como tantas consciências prisioneiras,
Que, convenientemente,
Se deixam arrastar!?
Ou como tanta gente inconseqüente
Que prefere vê-las na fogueira!?
Melhor expeli-las,
Antes que o futuro amanheça!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Verso de criança






Neila Costa






Logo cedo,
Corre sem enredo
E sem medo,
Pelas linhas do papel.

No casulo,
Lar da imaginação,
Sai o vocábulo
Em conteúdo diverso,
Livre de preceito,
E é sempre o eleito
Por esse universo.

Verso de criança,
De tenra pureza,
Não liga, do poema,
A aparência
Da qual se veste,
- exímia inocência!
De palavra nua,
Sem exigência,
Descalça de tristeza
E violência.

Verso de criança,
Corre como
Um rosto em riso
Sob a chuva!

Verso de criança
São ideias de mel
Que saem em prosa
Pelas linhas do papel.
Corre aos pulos
Como um corcel,
Sob o cuidado
E amor puro,
Que vem do céu
Fazendo-se fiel
Às histórias de cordel.

Verso de criança
É como pirraça
Que vem a tropel,
Pulando com graça,
Da mente para o papel.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Tempo





Neila Costa





Tempo passa a se arrastar
-Sol poente em despedida-
Como se fosse levar
Consigo toda uma vida.

Tempo que tive em meus braços
O tempo da juventude...
Sem rugas e sem cansaços!
Tempo de plena inquietude.

Como a todos é comum,
Do tempo o relógio furta
Nossos anos, um a um...
E nosso viver encurta!

Tempo cheio de trabalhos
Sem tempo para o lazer.
Hoje o tenho aos retalhos
Sem nenhum tempo a perder.

Tempo passa a galopar,
Arrastando nossos sonhos,
E passamos a contar
O tempo que passa... Tristonhos!


Herança






Neila Costa






De tudo,
O que me restou,
Como herança
Foi o ontem...
Cinzelado
Pelas mãos da sina,
Lavado
Com as lágrimas
Da lembrança.
Dobrado,
Engomado
A ferro com esperança...
Guardado
Com naftalinas,
Nas cômodas
Da memória.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Página em branco





Neila Costa






Como página
Em branco,
Cheia de palavras
Silenciosas,
Recolho os pensamentos
E me tranco,
O que pra alma é suplicio!
E comigo,
Tudo o que sinto
Deixo descansar
No calabouço
“Do desejo.”






quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sem você...



 

Neila Costa


Sem você,
Sou triste
Não sei sonhar,
Fico sem asas
Para voar...

Sem você,
A voz soluça,
Fica o vazio
Que se debruça
Num lar sombrio.

Sem você,
Sou terra
Sem marco,
Sem expectativa...
Sou barco
Que erra,
Sem farol,
Á deriva,
Sem porto
Para ancorar.

Sem você,
Sou jardim
Estéril,
Sem flores,
Sem borboletas,
Sem o canto dos pássaros,
Sem luz
E sem alegria.
Sem você,
A vida é sem graça,
É como o poeta
Sem musa,
E sem poesia
Sem você... Juro,
Eu não saberia
Viver sem te amar.



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Realidade indigesta








Neila Costa






É realidade indigesta,
Em grande parte funesta,
As noticias publicadas
Nos blogs e nos sites.
É sempre alguém metralhado
Num botequim qualquer,
Sem nunca ter imaginado
Que um dia teria esse fim.
Para bandidos pouco importa
A cor, a raça... a riqueza ou a pobreza!
Hoje em dia ninguém escapa
Da cólera desumana.
Até o pobre, com seu mínimo salário,
Não passa desapercebido
Dessas feras marginais.
Para delinquentes tudo é chalaça!
Ai de quem em um assalto
Der “trocados” por pirraça.
Reze para não ser maltratado
Ou receber grave ameaça.
Tem mais: não faça birra,
Nem seja malcriado,
Se não quiser que te matem!
Parece que hoje em dia
A desgraça é natural!
E é assim
Em todo território nacional.
Dos tempos parece o fim!
Coisa do demo! Surreal!
Se alguém é sequestrado,
Sofre estupro, é surrado,
Tem o corpo ou seus pedaços
Largados em matagal.
Se ao contrário, sofre assalto,
Roubam-lhe os pertences e o carro,
Muitas vezes comprado
Com um dinheiro suado.
E ainda tem que agradecer
Sua vida terem poupado.

E tem bandidos de moto
Que assaltam a luz do dia,
Em trânsito engarrafado,
A senhora distraída,
Não importa se feia ou atraente
Que sem noção do perigo
Fala ao telefone e dirige
Com a bolsa no banco da frente.

Sem falar dos apaixonados
Que namoram na praça,
Dentro dos carros,
Que os marginais por graça,
Ameaçam os infortunados!

Além disso,
Se comparar o tiroteio
Entre policia e marginal
Com filme onde há mocinho,
E coisa e tal,
O marginal faz papel
De artista principal!...
Enquanto o policial
Que corre pela cidade,
pelas grandes favelas
Em busca desses facínoras
Para por fim a essas procelas,
São considerados bandidos!...
Poucos sabem que nessa luta
Muitos deles já morreram,
Afinal, o combate é desigual!
Por falta de diferencial:
Salário justo
E arma especial.

Por ironia do destino,
O que é esquisito
Nessa historia toda,
É que ao marginal
Ainda damos um mimo...
Pois somos nos que pagamos
Bem mais do que o mínimo
Que ganha um trabalhador,
Embora não seja nada original,
Para mante-los em cela comum
Ou em cela especial.




sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Morre o poeta...














Neila Costa





Pela mudez
Dos sentimentos
E invalidez
Das mãos sem tato,
Morre o poeta...

Pela ausência de nitidez
Do papel amassado
E insensatez
Das lembranças do passado,
Morre o poeta...

Pela fluidez
Das palavras nos poemas,
E desfaçatez
Dos apaixonados versos,
Morre o poeta...

Pela languidez
Dos tempos mal vividos
E da vetustez
Dos amores proibidos,
Morre o poeta...

No fim do penúltimo ato!
Talvez,
Pela pressa de sair do palco...


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