Neila Costa
Ela
queria uma casa que não fosse de tábua, nem de barro, que o teto
não fosse de lona, nem de zinco; ela queria que no seu quarto
tivesse uma janela que desse para a rua, para contemplar a beleza do
pôr do sol e a suntuosidade da lua; ela queria ter uma “família
normal”, com pai, mãe e irmãos, onde todos falassem a mesma
“língua” e pensassem “quase” as mesmas coisas; ela queria
que o pai tivesse um emprego digno (e que a ele fosse fiel), sem se
importar em quê! Poderia ser pintor, marceneiro, professor,
condutor, contanto que quando chegasse o final do mês, o dinheiro
desse para pagar as contas e suster a família.
Ela
sonhava em estudar, para ter um futuro promissor, terminar os estudos
e cursar uma faculdade. Sonhava alto, porque sabia que para sair da
vida em que vivia, os sonhos tinham que ser altos, senão nada
mudaria. A verdade era que tudo ela queria e nada tinha, nem ao menos
sabia de que mulher havia nascido, nem qual pai a havia gerado. A
vida foi o carrasco dos seus sonhos, sua desilusão. As vezes, ela se
perguntava: nasci para quê e por quê? Ninguém a respondia porque
pensavam que ela era maluquinha!
Sua
casa era a rua, sua cama, a calçada. A janela que tanto falava ter
em seu quarto, era um buraco feito no papelão. Seu lençol era o
céu, sua luz, o sol, enquanto tinha, ou a lua, que ela chamava de
mãe, que vinha e a beijava… Depois saia e lhe sorria.
Sua
academia, era cedinho, às três horas da manhã (sem café),
apanhando de uma em uma latinha e garrafas de refrigerantes, sucos, e
outros lixos como o papelão, copos descartáveis, papéis, que
trocava por dinheiro, para comprar um prato de comida. Suas
refeições? Uma só, ao dia, a menos que alguém lhe desse algum
trocado.
Ela
queria…queria tanto sobreviver àquela vida miserável, que seu
tempo findou… faleceu.
Faleceu
para viver seus sonhos, no Céu.
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