quinta-feira, 4 de junho de 2015

A menina maluquinha





Neila Costa





Ela queria uma casa que não fosse de tábua, nem de barro, que o teto não fosse de lona, nem de zinco; ela queria que no seu quarto tivesse uma janela que desse para a rua, para contemplar a beleza do pôr do sol e a suntuosidade da lua; ela queria ter uma “família normal”, com pai, mãe e irmãos, onde todos falassem a mesma “língua” e pensassem “quase” as mesmas coisas; ela queria que o pai tivesse um emprego digno (e que a ele fosse fiel), sem se importar em quê! Poderia ser pintor, marceneiro, professor, condutor, contanto que quando chegasse o final do mês, o dinheiro desse para pagar as contas e suster a família.
Ela sonhava em estudar, para ter um futuro promissor, terminar os estudos e cursar uma faculdade. Sonhava alto, porque sabia que para sair da vida em que vivia, os sonhos tinham que ser altos, senão nada mudaria. A verdade era que tudo ela queria e nada tinha, nem ao menos sabia de que mulher havia nascido, nem qual pai a havia gerado. A vida foi o carrasco dos seus sonhos, sua desilusão. As vezes, ela se perguntava: nasci para quê e por quê? Ninguém a respondia porque pensavam que ela era maluquinha!
Sua casa era a rua, sua cama, a calçada. A janela que tanto falava ter em seu quarto, era um buraco feito no papelão. Seu lençol era o céu, sua luz, o sol, enquanto tinha, ou a lua, que ela chamava de mãe, que vinha e a beijava… Depois saia e lhe sorria.
Sua academia, era cedinho, às três horas da manhã (sem café), apanhando de uma em uma latinha e garrafas de refrigerantes, sucos, e outros lixos como o papelão, copos descartáveis, papéis, que trocava por dinheiro, para comprar um prato de comida. Suas refeições? Uma só, ao dia, a menos que alguém lhe desse algum trocado.
Ela queria…queria tanto sobreviver àquela vida miserável, que seu tempo findou… faleceu.
Faleceu para viver seus sonhos, no Céu.


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