quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Amor,extenso amor



Neila Costa









O meu amor,
tão extenso
quanto o mundo que há lá fora,
tão intenso
quanto um céu azul de primavera...
Defini-lo,
Com palavras, impossível!
Sinto-o e é o que me basta...

Amor vivaz,
que dia após dia resiste
às agruras, sem queixas,
sem dúvidas e dívidas...
Quando de mim distancia,
o dia se torna tão longo,
as noites tão silenciosas
e vazias...

Mas quando regressa,
Sinto-me do chão suspensa,
E o céu resplandece
sobre meus pensamentos...
Enfim, nele descanso minha alma,
e é por ele que amanheço
todos os dias para a vida.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

MOSSORÓ E TIBAU (RN)- Neila Costa (Poesia que participa do livro "Antologia Poética" de poetas e escritores filhos da terra)

Ao escrever uma poesia homenageando minha cidade natal, Mossoró (RN), permiti que o amor e o orgulho que sinto pelo chão que me viu nascer e crescer, escorressem  pelos meus versos, de modo muito intenso. Foi por isso, talvez, que David Leite, ao tomar conhecimento desse meu "Hino", tenha me convidado a participar da "Antologia Poética", onde reuniu Poetas e Escritores filhos da cidade. Assenti e aqui estão meu poema e a excelente crítica sobre o livro, favorável também ao meu trabalho, ao ser citada pelo Escritor Nelson Patriota.





Mossoró e Tibau

Neila Costa


Mossoró
Dos dias inesquecíveis da minha infância,
Dos jogos de amarelinhas e das queimadas,
Nas velhas mangueiras, as escaladas,
E o futebol pueril com a vizinhança.

Mossoró
Das belezas da extensa praia do Tibáu,
Suas jangadas, águas azuis e relaxantes,
Dos corpos estirados ao sol, exuberantes...
Namorados de mãos dadas ao cair da tarde...

Tibau
Da típica e saborosa comida,
Do camarão e do peixe frito na tapioca,
Da água de côco, do milho verde, da paçoca,
Da coalhada, do baião de dois e da peixada.

Tibau
Dos extensos morros de areias coloridas,
Mundialmente conhecidas... e engarrafadas
Formando paisagens manualmente trabalhadas.
Cidade das rendeiras, artesanatos  e bordadeiras.

Mossoró
Da minha primeira lágrima, meu primeiro amor,
Do meu primeiro beijo na pracinha, no escuro,
Das ilusões juvenis, do devaneio mais puro...
Da vida adolescente que deixei para trás...

Mossoró
Terra mãe, amada, que trago na memória,
E na alma a inspiração dos versos que faço agora...
No coração, meu amor por ti, desde outrora...
És e sempre serás o enredo da minha história.



Presença poética de Mossoró e Tibau

Nelson Patriota [ escritor ]

Que cidade não inspira admirações as mais variadas, e que pouco a pouco não se traduzam em cantos e poesias? Nem mesmo a melancólica Beócia, de triste memória na Antiguidade, se privou de seus poetas e cantores. Com mais razão, a combativa Mossoró, sempre acompanhada do aposto “Princesa do Oeste”, inspiraria louvores de vária ordem não só a mossoroenses de direito, mas também os adotivos – quer os que a adotaram, quer os que foram por ela adotadas. Ou a ambos os casos.

O livro “Mossoró e Tibau em Versos: antologia poética” (Sarau das Letras, 2014), organizado pelo poeta David de Medeiros Leite e José Edilson de A. G. Segundo, é mais uma de outras tantas antologias que a cidade de Mossoró suscita de tempos em tempos, a exemplo de “100 Poetas de Mossoró”, organizada por Caio Cézar Muniz, e com a qual compartilha um sentido fluido e elástico do termo “antologia”. Com efeito, ambos remetem mais à recolha do que a seleção, pecado aliás muito corrente nas modernas “antologias”, que, por não terem um propósito crítico, elegem como parâmetro diretivo o acervo disponível em torno do seu objeto de eleição indiscriminadamente. Isso finda por conferir a esses livros um caráter generalista e desigual, quando se cotejam seus textos mais acuradamente, colocando lado a lado poemas de gêneros e qualidades diversos; por outro lado, dá a esse conjunto díspare um verniz documental, uma vez que acolhe praticamente tudo o que considerar pertinaz ao tema.

Devido a isso, a antologia apresenta um largo espectro de gêneros que comporta versos brancos, cordéis, elegias, sonetos e outros estilos poéticos, enquanto a diversidade de autores abre um vasto leque de motivos, alguns bastante originais no tratamento do tema comum. Os exemplos são vários: o poema longo “Conversa de cangaceiros a cavalo no dia em que atacaram Mossoró”, de Homero Homem, o poema “Exercício de memória”, de Deífilo Gurgel, o cordel “De calça curta e chinela”, de Antonio Francisco, “Adoção”, de Clauder Arcanjo, “Canoeiros de Mossoró”, de David Leite, entre tantos outros.

À diferença da recolha poética levada a cabo por César Muniz, essa de David Leite e José Segundo inova ao incorporar a poesia telúrica e talássica inspirada nos encantos da praia de Tibau, extensão dos domínios afetivos dos mossoroenses; sua Pasárgada, no sentido bandeiriano. Predomina, porém, numérica e qualitativamente, a fonte de inspiração encravada nos chãos mossoroenses, como a dizer que o primeiro amor transborda de inspiração, em comparação ao amor tardio de Tibau.

A exceção é o poema “Mossoró e Tibau”, de Neila Costa, que reúne esses dois afetos mossoroenses numa ciranda de versos que se alternam em propalar ora as belezas e virtudes de um, ora do outro, numa celebração balanceada a fim de não melindrar nenhum deles. O fato, porém, de abrir e fechar o poema com evocações a Mossoró, deixa transparecer uma preferência tácita por esta cidade.

A paixão por Mossoró transborda sem pejo no poema “Ó Mossoró! Ó Sol”, de Cosme Lemos, que vale por uma quase-elegia à Princesa do Oeste, e que logo em seus primeiros versos estabelece a ligação essencial da cidade com o astro-rei Compare-se com o poema “Mossoró, sob o sol e o vento”, de João Wilson Mendes Melo, cujo verso inicial diz: “Na cidade em que nasci e cresci / Quem governa e quem manda é o sol”), enquanto escande a solitária vogal iterativa do nome da cidade: “Ó Mossoró! Ó Sol! As consoantes mortas / Perdem-se no clarão da vogal que as consome / E acorda todo o Oeste, abrindo as tuas portas, / Para dar ao sertão o calor do teu nome [...]”.



sábado, 28 de junho de 2014

Páginas úmidas


Neila Costa





O rosto no pó,
espelha o meu
tornado
em águas
e não só.

Dolorida,
ao léu, a carne
deambula
condoída.

Sigo pelas ruas,
continuadas,
pelos dias insossos
sem sol,
pelas frias madrugadas;

vivo
como lua encoberta,
embrulhada em manto
de nuvens,
à chuva de sobreaviso;

vivo
de improviso,
sem caça e sem riso,
sem me conter;

vivo
por tuas lembranças,
por tua alma cândida,
cristalina,
sossegada, 
rendida
aos campos infinitos
do céu;
  
vivo
como quem por dentro
vive do teu olhar que me lê,
nas paginas úmidas de saudade
de você.

domingo, 11 de maio de 2014

Versos da minha oração










Neila Costa






Vejo-te
Presente, em forma de Anjo,
Em vôos noturnos,
Nos meus sonhos mais profundos.
Ouço tua voz
Quase imperceptivelmente,
Abrandando minha dor.

Vejo-te
Percorrendo os caminhos de sempre,
Com a firmeza de mãe exemplar.
Imagino-te...
E nessas horas queria ter asas
Para voar,
E amortecer a vontade de te ver,
De estar contigo... e te abraçar!

Vejo-te
Como um anjo da guarda
Dos meus pensamentos,
Oferecendo-me ajuda
E enxugando as lágrimas
Que rolam pelo meu rosto,
Quando não consigo detê-las.

Vejo-te
No azul escuro do céu,
Como a estrela mais brilhante
Em noites de luar...
E soluço a minha saudade
Pela tua ausência,
Pela falta do teu carinho
Que me invade...

Vejo-te
Nas minhas mãos estendidas,
Na dor da minha emoção,
Pedindo-te para voltar...

Vejo-te
No silêncio do infinito,
Nos versos da minha oração,
Onde busco teu olhar.

segunda-feira, 17 de março de 2014

SANGRANDO - Neila Costa



Sangrando

Neila Costa

Sangram-me as palavras
Como sangra, do vagabundo,
A vida sem sentido...
Inferno nauseabundo.
Sangram-me as palavras
Como quem sangra
Do amor, a ternura;
Do lar, a quietude;
Da sensatez, a prudência;
Da paz, a serenidade;
Da injúria, a paciência.
Sangram-me as palavras
Como quem sangra
Da rua, a tranqüilidade;
Do céu, as estrelas;
Do dia, o sol
E da noite, a lua.
Sangram-me as palavras
Como sangra a sensibilidade
Diante do terror diversificado,
Como sangra tudo o que assola
A enraivecida humanidade.
Sangram-me mais além...
Como quem, na vida, sangra
A carne... e a alma de alguém.
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