Neila Costa
Hoje,
o sol amanheceu triste e as nuvens cinzentas e desamparadas…
Juntos, Alice e o sol, formavam uma dupla daquelas, que quando
amam alguém, externam o que sentem e extravasam o que sai do
âmago da alma; Por isso, apressadamente, o sol encabulado,
escondeu-se entre as nuvens e essas, num ímpeto, começaram a
chorar; relâmpagos e trovões desaceleravam corações e gargalhavam
por haver festa no céu.
De
repente, ouviu-se uma voz, vinda da cozinha, a dizer que essas coisas
de sentimento, já não existem mais, são banais, caiu
de moda e que logo, logo, tudo o que eles sentiam, passaria.
Quem
disse que tristeza é coisa que passa, assim, tão rápida! As banais
talvez, mas existem outras, que podem durar uma eternidade, visto
que, sua voracidade é tanta que se permite tatuar na alma a cruz que
se carrega, para que dela, jamais se esqueça.
Entretanto,
Alice suspirou e lembrou das suas saudades… e desabafou…dói
saber que nunca mais vamos ter aquele alguém que tanto amávamos, ao
nosso lado; dói lembrar seu sorriso, seu amor, seu
carisma, suas doações sem preço! Dói, com a sua
ausência, a solidão e os abusos dos dias monótonos, tediosos,
quando de sua presença os dias eram raios de sol que se disseminavam
vida afora…
Hoje,
para Alice, os dias tornaram-se uma fortaleza contra si mesma
contudo, ela luta, luta, para sair dessas memórias que nunca a
deixam em paz, que a tornaram refém das páginas do Word, em branco,
vistas na tela do seu notebook, a espera de que se motive a
teclá-las, para extravasar o que sente e que tanto interrompe a sua
alegria…sabe-se que após extravasar, Alice relaxa e sai para
respirar o “seu” mundo, la fora. Às vezes, quando chora, na
verdade, é a tinta que escorre dos seus olhos que pintam alguns dos
seus versos, versos que ficam impressos no pensamento de quem os lê;
versos simples, repletos de amor e encharcados de saudades; versos
que em sua maioria saem amargos, tão crus que ela pensa em
modificá-los ou jogá-los ao lixo; outros, são tão doces, como o
beijo de dois adolescentes apaixonados; ou como o afeto de uma
criança que rir com o cair da folha de uma árvore; como o abraço
forte e rejuvenescedor de duas almas, que não se viam ha anos!
Hoje,
Alice parou para pensar e viu que tudo o que sentia vinha das
lembranças do passado, algumas descartáveis, que poderiam ser
lavadas com a esponja do tempo, mas,outras, não… recordações sem
fim, que não se desgrudam, pensamentos adiposos que ao esfregá-los,
ferem a alma; alias, Alice tem um baú de momentos assim,
inexplicáveis, que ainda estão tão vivos, quanto os fantasmas dos
seus dias. Esses, já não lhe fazem mais tanto medo, passam tanto
tempo juntos que se tornaram amigos mas, ha momentos que brigam, pelo
susto que um faz ao outro.
Hoje,
ela amanheceu com uma vontade enorme de pôr a mochila nas costas e
sair por esse mundo afora, para deixar em cada lugar que passasse, um
pouco do que lhe faz pensar, mas que nunca lhe faz deixar de
esquecer… Ela gostaria de destravar a melancolia e a solidão, as
quais lhe tomaram por abrigo… Gostaria de acordar a esperança e
alavancar a alegria…Gostaria, gostaria de nunca ter que dizer
adeus, a quem quer que fosse! Gostaria que todos vivessem plenamente
e para sempre se amassem e se respeitassem e que a morte, morresse,
por algum motivo justo.
Hoje,
ela, a solidão, mais uma vez, não a deixou em paz, lhe fez
companhia o dia inteiro! Como sempre, muda e invisível, caminhando
ao seu redor com seu velho sapato alto, marrom, só para chamar
atenção, mas, Alice, não lhe deu a mínima!
Foi
então, quando da inquietude das palavras, o inevitável aconteceu.
Seu amigo sol, abriu-lhe um largo sorriso franco e piscou-lhe o
olho. Com o cair da tarde, ela pensou duas vezes…amanhã pode ser
um dia diferente, quem sabe, poderei escrever e delinear as frases
com mais excelência de escolhas e as pautas estarão, com certeza,
prenhas de esperanças para inspirar uma nova e contagiante história.